segunda-feira, 7 de julho de 2008

CARNAVAL DE BRASFEMES

Pela sua genuinidade vou, hoje reportar um passado recente que muito diz às gentes da nossa Terra. Vou basear-me em alguns documentos históricos que tenho recolhido pela minha vivência. Situar-me-ei, concretamente, no ano de 1985.
Ontem, como hoje, haviam os que empreendiam qualquer coisa de diferente em prol da sua Brasfemes, mas havia, igualmente, os outros que, para além de nada fazerem, só atrapalham…
O texto é comprido, mas entendo publicá-lo na íntegra, para a memória futura.
Das coisas boas feitas na freguesia de Brasfemes o Carnaval é uma delas.
Era uma vez…
Era assim que podia começar a história do Carnaval de Brasfemes. O ‘era uma vez’ dos contos de fadas confunde-se aqui perfeitamente, porque embora a história se tivesse passado na realidade houve aqui (como naqueles contos) alguns desaires e dissabores, grandes vitórias e alegrias.
Foi com estas vitórias nestas batalhas sempre vencidas com grande esforço e a pulso que o Carnaval em Brasfemes é já hoje conhecido não só na zona norte de Coimbra, como já chegou aos jornais e rádios de Coimbra.
Estava-se no início da década de ‘70’ e os miúdos de então com pensamento grande, dinamismo e muita força própria da juventude, resolveram, entre muitas coisas novas que faziam, dar continuidade ao que tido um sucesso uns anos atrás: o cortejo de Carnaval que então tinha sido feito e organizado…
Foi então que aquele grupo jovem diferente, saiu à rua pelo Entrudo com um cortejo que, embora improvisado e curto, mas, divertido e colorido e que teve bom acolhimento e adesão de toda a gente que teve o privilégio de o ver.
De modo a que nos anos seguintes eram essas pessoas a pedir que não nos esquecêssemos que o Carnaval se aproximava e que havia que o preparar, até que se foi tornando uma rotina.
Sempre surgiam ideias novas. Sempre se alterava o que estava menos bem e a ideia do progresso, do andar para a frente estava sempre nas nossas cabeças, preservando por outro lado e sempre os ‘Jogos Tradicionais’ do Carnaval, como é o caso do “TOIRO”, “FUNIS”, etc. mas sempre na mais sã convivência, na fraternidade e respeito pelo próximo.
Aquilo que dantes era uma brincadeira, tornou-se aos poucos uma festa de alegria, num reforço de amizade e união, na valorização dos bons valores e até no aparecimento de uma loucura alegre e sadia em todos aqueles que realizavam um dos acontecimentos mais importantes na vida desta Aldeia, porque o êxito sucedia-se ano após ano.
É nesta fase que surge a 2ª fase do Carnaval. Será um Carnaval em estado adulto. A responsabilidade é grande e os riscos a correr são ainda maiores, pois agora a luta é de assegurar que o próximo Carnaval não seja inferior ao anterior.
Todos os anos se uniam esforços, se redobravam amizades, a fraternidade imperava.
A actuação da Comissão era transparente. Afinal reconheceu-se e verifica-se que o dinheiro não foi para a Rua da Sofia (PCP, conforme alguém sem carácter lançava boatos), não foi para fazer casas, não foi para arranjar carrinhas.
Começa-se então nesta pequena exposição a falar de dinheiro, propositadamente para o fim, para que fosse o último ponto a ser falado e, consequentemente, para que seja melhor entendido e esclarecido para o futuro.
Todos ‘nós’ aqui presentes, da Comissão de Carnaval, nos lembramos como foi o primeiro Cortejo e respectivos Bailes: lenha avulso da serração que pedíamos emprestada numa visita nocturna; tintas gentilmente cedidas pelos pintores de automóveis e seus patrões; humor gratuito com piadas a granel e ‘Tinto quanto baste’ subtraído fora de horas das pipas de cada adega, para aquele Grupo que curtia o Carnaval, na mais sã camaradagem.
E para os pregos, papel, etc., os rapazes trabalhadores, não trabalhadores, desempregados, não desempregados, estudantes e langões que faziam parte da Comissão, tiveram que entrar com uma jóia de 100$00 (cem escudos, para quem já não se lembra!)
Lucros?... É claro que os houve. Como sempre tudo era estudado até às últimas consequências.
Assim, por vontade de todos, entregou-se o lucro ao Grupo de Bombeiros Voluntários Brasfemense e ao Recreativo Clube de Brasfemes, dividido igualmente. Assim se continuou a fazer até se atingir a 2ª fase do Carnaval, atrás referido.
Recordando essa época podemos adiantar o nosso pensamento
1º Se é vontade de todos fazer o Carnaval a nossa festa de amizade e para sempre;
2º Se de ano para ano os produtos necessários: pregos, papel, tintas, arame, conjuntos, aparelhagem, etc. estão sempre mais caros;
3º Se os nossos Bailes, Matinés e outras coisas do género onde quer que se realizem, são sempre pagos, inclusive os salões.
Cabe aqui perguntar:
1º - Quem tem trabalhado nestes pequenos empreendimentos?
2º - Quem nos tem pago as noites perdidas e a gasolina gasta?
3º - Quem nos restitui os ‘cem mil reis’ com que entrámos?
4º - Então… quem tem autoridade para nos pedir ou exigir seja o que for?
Então decidiu-se, e muito bem, não dar mais nada a ninguém, permitindo-nos ficar com uma reserva para custear as despesas dos anos seguintes, o que nos permite fazer um Carnaval cada vez melhor.
Pelo menos fica-se com a certeza de que se o tempo nos pregar uma ‘partida’ não ficamos totalmente pendurados.
Esta é a política que se tem seguido nos últimos 4 ou 5 anos e que tem sido alvo de ataques de diversas pessoas.
É, no entanto chegado o ano de 1982. Ano em que aquelas críticas são bastante severas e injustas.
Tão severas e injustas quanto o salto qualitativo que a nossa Festa de Carnaval teve. Os ataques eram frontais e não se poupava nada nem ninguém, ferindo a moral de pessoas idóneas e dignas de respeito.
Assim, a Comissão de então, lançou o desafio, pondo no ano de 1983, a realização da Festa à disposição de voluntários.
Marcaram-se 3 reuniões públicas, para entrega de todos os documentos, publicamente anunciadas.
Conclusão: não houve ninguém que quisesse assumir a realização do Carnaval.
Em 1984 retoma a Comissão conta da Festa, sem o apoio dos Bairros e o êxito é aquele que todos nós temos ainda hoje presente.
Para completar melhor este pequeno historial, falta-nos falar directamente de nós, Comissão. Este Grupo que durante mais de 10 anos permaneceu amigo e unido, soubemos sempre perdoar e o espírito de entreajuda nunca nos largava. Fazíamos de cada reunião um encontro, uma festa. Não havia ‘craques’, pois todos, cada um por seu lado ajudou a dar o nome e o prestígio a este Carnaval, mas era lamentável não referir que houve, ou melhor há 2 pessoas que merecem a nossa recordação, a nossa saudade, em virtude de já nos terem deixado: São eles os nossos Amigos EDUARDO e PAULO.
O primeiro, pela vontade, pelo querer, pelo grande trabalho desenvolvido nesta Aldeia, pelo saber estar na altura certa.
Todos nós que fomos Amigos o recordamos com um sorriso porque era assim que ele queria e revoltados porque não era assim que nós queríamos…
O segundo, porque passou por todos os lados, desde o Futebol ao Carnaval e sempre deixou marcas e amizade. Aqui no Carnaval foi um grande impulsionador, um grande homem de pensar profundo, que só é bem compreendido por quem com ele trabalhou.
Um homem assim nunca morre. E tinha o Carnaval no espírito e nós temos o espírito no Carnaval para lhe fazer a justa e merecida homenagem.
Só sabemos dizer muito simplesmente: obrigado PAULO pelo que fizeste. Nós continuamos contigo, realizando aquilo que tantas vezes sonhámos em conjunto.
Pedimos no entanto atenção para os novos elementos da Comissão que vai connosco ter o trabalho de fazer tudo pela continuidade deste projecto.
Estes rapazes já sabem o que lhes espera de um lado e de outro, porque já trabalharam connosco, agora basta ver a verticalidade e a transparência que nós tivemos. Mas como há 10 anos atrás eles estão cheios de força e energia e têm aquele balanço da juventude.
Nós mais velhos da Comissão só temos a dizer a estes jovens (segue-se uma lista de brasfemenses) que confiamos em vocês!... e com vocês continuamos sempre.
Agora só falta dizer: Viva o Carnaval de Brasfemes.
Texto de um cidadão de Brasfemes, datado de 1985.
Como o tempo passa!
A partir dos anos ‘90’, como e do conhecimento geral, acabou a Comissão ‘ad-hoc’ do Carnaval de Brasfemes na sua genuinidade e irreverência própria. Foi o CEREAC (CRAC para alguns) que tem organizado o Carnaval de Brasfemes até aos dias de hoje.
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