Ontem, como hoje, haviam os que empreendiam qualquer coisa de diferente em prol da sua Brasfemes, mas havia, igualmente, os outros que, para além de nada fazerem, só atrapalham…
O texto é comprido, mas entendo publicá-lo na íntegra, para a memória futura.
Das coisas boas feitas na freguesia de Brasfemes o Carnaval é uma delas.
Era uma vez…
Era assim que podia começar a história do Carnaval de Brasfemes. O ‘era uma vez’ dos contos de fadas confunde-se aqui perfeitamente, porque embora a história se tivesse passado na realidade houve aqui (como naqueles contos) alguns desaires e dissabores, grandes vitórias e alegrias.
Foi com estas vitórias nestas batalhas sempre vencidas com grande esforço e a pulso que o Carnaval em Brasfemes é já hoje conhecido não só na zona norte de Coimbra, como já chegou aos jornais e rádios de Coimbra.
Estava-se no início da década de ‘70’ e os miúdos de então com pensamento grande, dinamismo e muita força própria da juventude, resolveram, entre muitas coisas novas que faziam, dar continuidade ao que tido um sucesso uns anos atrás: o cortejo de Carnaval que então tinha sido feito e organizado…
Foi então que aquele grupo jovem diferente, saiu à rua pelo Entrudo com um cortejo que, embora improvisado e curto, mas, divertido e colorido e que teve bom acolhimento e adesão de toda a gente que teve o privilégio de o ver.
De modo a que nos anos seguintes eram essas pessoas a pedir que não nos esquecêssemos que o Carnaval se aproximava e que havia que o preparar, até que se foi tornando uma rotina.
Sempre surgiam ideias novas. Sempre se alterava o que estava menos bem e a ideia do progresso, do andar para a frente estava sempre nas nossas cabeças, preservando por outro lado e sempre os ‘Jogos Tradicionais’ do Carnaval, como é o caso do “TOIRO”, “FUNIS”, etc. mas sempre na mais sã convivência, na fraternidade e respeito pelo próximo.
Aquilo que dantes era uma brincadeira, tornou-se aos poucos uma festa de alegria, num reforço de amizade e união, na valorização dos bons valores e até no aparecimento de uma loucura alegre e sadia em todos aqueles que realizavam um dos acontecimentos mais importantes na vida desta Aldeia, porque o êxito sucedia-se ano após ano.
É nesta fase que surge a 2ª fase do Carnaval. Será um Carnaval em estado adulto. A responsabilidade é grande e os riscos a correr são ainda maiores, pois agora a luta é de assegurar que o próximo Carnaval não seja inferior ao anterior.
Todos os anos se uniam esforços, se redobravam amizades, a fraternidade imperava.
A actuação da Comissão era transparente. Afinal reconheceu-se e verifica-se que o dinheiro não foi para a Rua da Sofia (PCP, conforme alguém sem carácter lançava boatos), não foi para fazer casas, não foi para arranjar carrinhas.
Começa-se então nesta pequena exposição a falar de dinheiro, propositadamente para o fim, para que fosse o último ponto a ser falado e, consequentemente, para que seja melhor entendido e esclarecido para o futuro.
Todos ‘nós’ aqui presentes, da Comissão de Carnaval, nos lembramos como foi o primeiro Cortejo e respectivos Bailes: lenha avulso da serração que pedíamos emprestada numa visita nocturna; tintas gentilmente cedidas pelos pintores de automóveis e seus patrões; humor gratuito com piadas a granel e ‘Tinto quanto baste’ subtraído fora de horas das pipas de cada adega, para aquele Grupo que curtia o Carnaval, na mais sã camaradagem.
E para os pregos, papel, etc., os rapazes trabalhadores, não trabalhadores, desempregados, não desempregados, estudantes e langões que faziam parte da Comissão, tiveram que entrar com uma jóia de 100$00 (cem escudos, para quem já não se lembra!)
Lucros?... É claro que os houve. Como sempre tudo era estudado até às últimas consequências.
Assim, por vontade de todos, entregou-se o lucro ao Grupo de Bombeiros Voluntários Brasfemense e ao Recreativo Clube de Brasfemes, dividido igualmente. Assim se continuou a fazer até se atingir a 2ª fase do Carnaval, atrás referido.
Recordando essa época podemos adiantar o nosso pensamento
1º Se é vontade de todos fazer o Carnaval a nossa festa de amizade e para sempre;
2º Se de ano para ano os produtos necessários: pregos, papel, tintas, arame, conjuntos, aparelhagem, etc. estão sempre mais caros;
3º Se os nossos Bailes, Matinés e outras coisas do género onde quer que se realizem, são sempre pagos, inclusive os salões.
Cabe aqui perguntar:
1º - Quem tem trabalhado nestes pequenos empreendimentos?
2º - Quem nos tem pago as noites perdidas e a gasolina gasta?
3º - Quem nos restitui os ‘cem mil reis’ com que entrámos?
4º - Então… quem tem autoridade para nos pedir ou exigir seja o que for?
Então decidiu-se, e muito bem, não dar mais nada a ninguém, permitindo-nos ficar com uma reserva para custear as despesas dos anos seguintes, o que nos permite fazer um Carnaval cada vez melhor.
Pelo menos fica-se com a certeza de que se o tempo nos pregar uma ‘partida’ não ficamos totalmente pendurados.
Esta é a política que se tem seguido nos últimos 4 ou 5 anos e que tem sido alvo de ataques de diversas pessoas.
É, no entanto chegado o ano de 1982. Ano em que aquelas críticas são bastante severas e injustas.
Tão severas e injustas quanto o salto qualitativo que a nossa Festa de Carnaval teve. Os ataques eram frontais e não se poupava nada nem ninguém, ferindo a moral de pessoas idóneas e dignas de respeito.
Assim, a Comissão de então, lançou o desafio, pondo no ano de 1983, a realização da Festa à disposição de voluntários.
Marcaram-se 3 reuniões públicas, para entrega de todos os documentos, publicamente anunciadas.
Conclusão: não houve ninguém que quisesse assumir a realização do Carnaval.
Em 1984 retoma a Comissão conta da Festa, sem o apoio dos Bairros e o êxito é aquele que todos nós temos ainda hoje presente.
Para completar melhor este pequeno historial, falta-nos falar directamente de nós, Comissão. Este Grupo que durante mais de 10 anos permaneceu amigo e unido, soubemos sempre perdoar e o espírito de entreajuda nunca nos largava. Fazíamos de cada reunião um encontro, uma festa. Não havia ‘craques’, pois todos, cada um por seu lado ajudou a dar o nome e o prestígio a este Carnaval, mas era lamentável não referir que houve, ou melhor há 2 pessoas que merecem a nossa recordação, a nossa saudade, em virtude de já nos terem deixado: São eles os nossos Amigos EDUARDO e PAULO.
O primeiro, pela vontade, pelo querer, pelo grande trabalho desenvolvido nesta Aldeia, pelo saber estar na altura certa.
Todos nós que fomos Amigos o recordamos com um sorriso porque era assim que ele queria e revoltados porque não era assim que nós queríamos…
O segundo, porque passou por todos os lados, desde o Futebol ao Carnaval e sempre deixou marcas e amizade. Aqui no Carnaval foi um grande impulsionador, um grande homem de pensar profundo, que só é bem compreendido por quem com ele trabalhou.
Um homem assim nunca morre. E tinha o Carnaval no espírito e nós temos o espírito no Carnaval para lhe fazer a justa e merecida homenagem.
Só sabemos dizer muito simplesmente: obrigado PAULO pelo que fizeste. Nós continuamos contigo, realizando aquilo que tantas vezes sonhámos em conjunto.
Pedimos no entanto atenção para os novos elementos da Comissão que vai connosco ter o trabalho de fazer tudo pela continuidade deste projecto.
Estes rapazes já sabem o que lhes espera de um lado e de outro, porque já trabalharam connosco, agora basta ver a verticalidade e a transparência que nós tivemos. Mas como há 10 anos atrás eles estão cheios de força e energia e têm aquele balanço da juventude.
Nós mais velhos da Comissão só temos a dizer a estes jovens (segue-se uma lista de brasfemenses) que confiamos em vocês!... e com vocês continuamos sempre.
Agora só falta dizer: Viva o Carnaval de Brasfemes.
Texto de um cidadão de Brasfemes, datado de 1985.
Como o tempo passa!
A partir dos anos ‘90’, como e do conhecimento geral, acabou a Comissão ‘ad-hoc’ do Carnaval de Brasfemes na sua genuinidade e irreverência própria. Foi o CEREAC (CRAC para alguns) que tem organizado o Carnaval de Brasfemes até aos dias de hoje.