quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Bombeira ficou ferida

Olga Marques e outros elementos da corporação viveram momentos de pânico ao serem cercados pelas chamas em Ponte de Lima
O grupo de bombeiros de Coimbra que apoiou o combate ao incêndio de Ponte de Lima, na segunda-feira passada, viveu momentos de grande aflição quando se viu cercado pelas chamas e em terreno desconhecido destes soldados da paz. Apesar do susto, apenas um dos elementos dos Bombeiros Voluntários de Brasfemes ficou ferido com alguma gravidade, sofrendo queimaduras de terceiro grau no braço, e uma viatura ficou ligeiramente danificada. «O fogo é muito perigoso, mas o vento é o nosso principal inimigo no terreno», explicava o comandante da corporação, Acácio Monteiro.
Olga Marques, residente na Lousã, bombeira com larga experiência no combate a incêndios, foi assistida no Hospital de Viana do Castelo, teve alta no próprio dia e está a receber tratamento para a queimadura, adiantou o responsável, sublinhando o perigo que correram os bombeiros do Grupo de Reforço de Incêndios Florestais (GRIF) de Coimbra, que tinham seguido numa coluna de reforço para Ponte de Lima naquele dia.
«Viram-se cercados, o fogo estava a ser combatido em situações muito adversas. Em segundos o vento mudou e as chamas altas que estavam a cerca de 100 metros cercaram um grupo de seis bombeiros», referiu Acácio Monteiro, que acompanhou a situação à distância, uma vez que não estava no local. De acordo com o comandante, o GRIF que seguiu para aquele incêndio, com cerca de 26 bombeiros – dos Voluntários de Coimbra, de Brasfemes, de Coja, Condeixa, Penela e Mira –, quatro viaturas de combate a incêndios florestais, dois auto-tanques e uma viatura de comando, era comandado pelo adjunto de comando de Brasfemes, Rui Gonçalves.
Com 49 anos de idade e 32 de bombeiro, Rui Gonçalves está ainda consternado com o episódio de segunda-feira. Esteve no meio do cerco e, «em minutos que parecerem longas horas», pensou que a sua vida e dos colegas ficaria por ali. Não teve a ver com experiência ou técnica – essas têm-nas –, mas com a natureza. «Atraiçoou-nos», disse ao Diário de Coimbra, explicando que «o incêndio estava já controlado a favor dos bombeiros e que nada fazia prever mudança tão repentina nos ventos».
Com os poucos meios que detinha, uma viatura e seus cinco ocupantes e mais o próprio adjunto de comando, conseguiram lutar contra as chamas, até chegarem ajudas de outras corporações. «O nosso motorista furou pelo meio do fumo e conseguiu pedir socorro», refere Rui Gonçalves, ainda mal refeito do susto.

Comandante
fala em “milagre”
«Só um milagre para se terem salvo sem grandes ferimentos», refere o comandante Acácio Monteiro, lembrando que os bombeiros ainda se preocuparam em retirar a viatura do cerco de chamas. «A temperatura era tão alta que provocou a queimadura à bombeira, que usou o braço com o instinto de proteger mais a cara. São bombeiros experientes e que já viveram muitas situações de perigo, mas acredito que nunca tão grave».
O grupo de Coimbra foi desmobilizado ainda na segunda-feira, mas o incêndio que lavrava na região também acabaria por ser controlado nessa altura. Acácio Monteiro garante que a voluntária de Brasfemes está bem e que, como os outros, não desistirá da sua missão. «É uma luta dura e constante, mas não nos deixamos ir abaixo, porque acreditamos na causa do voluntariado», sublinha o comandante, lamentando que as estruturas e organismos de cúpula portugueses teimem em «não dar o devido reconhecimento ao trabalho dos bombeiros voluntários, ano após ano».

Fonte: Diário de Coimbra